Afuturo, o álbum de estreia de Ro Araujo, é um trabalho que desafia os limites do pop brasileiro ao incorporar elementos da música negra e latina em uma narrativa afrofuturista. A artista não se contenta em apenas criar músicas cativantes; ela usa sua arte para discutir temas urgentes, como reparação histórica, padrões estéticos e direitos femininos. Em faixas como “Raridade” e “Nesse som”, Ro Araujo subverte expectativas, trazendo letras potentes em ritmos tradicionalmente associados ao machismo, como o funk. A produção impecável de Fael Brito e as colaborações com outras artistas mulheres elevam o disco, tornando-o uma obra essencial para entender a música brasileira contemporânea.
O álbum pode ser definido como um pop brasileiro com referências à ancestralidade e a latinidade. Símbolo de um momento de transformação na vida de Ro Araujo, o disco “Afruturo” traz letras corajosas embaladas em uma mistura de ritmo empolgante. Como na faixa “Contra o vento”, que mistura a bossa nova com a cumbia; ou em “Proteção”, que mistura orixás ao maracatu, com toques de soul pop e dançante.
“O trabalho bebe da brasilidade, da cultura popular e música negra não só brasileira, mas também da América Latina e até mesmo norte-americana. Minhas influências musicais são muito diversas, passam tanto por clássicos da MPB até Anitta, sou uma pessoa muito aberta musicalmente, o que acredito que se reflete também na sonoridade do disco. Gostei de, por exemplo, fazer uma música que é um funk, mas com uma letra que fala sobre padrões de beleza, sobre procedimentos estéticos, como um deslocamento de temáticas dentro de um ritmo que ainda é muito machista”, reforça Ro Araujo.
Alinhando discurso à ação, a equipe de Ro Araujo é, em sua maioria, de mulheres, e a artista é acompanhada no disco pelas cantoras Ju Santana, na faixa “Eu não ando só”; Ananda Jacques, em “Serpente”; e Aiane, na música “Proteção”. Da vulnerabilidade que originou a criação do disco “Mulheres Artistas em Residência – Volume 1”, foi na união destas mulheres que a artista encontrou seu porto seguro.
“O processo de composição com elas foi fluido, leve. Uma das motivações foi sentir que gostaria muito de mostrar outras facetas, criar uma nova relação com a música e com o público, em que eu pudesse me despir dos medos e me conectar de uma forma mais genuína”, finaliza Ro Araujo.