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Preta Gil morre aos 50 anos e deixa legado de liberdade, coragem e boa música

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A música brasileira perdeu, neste domingo (20), uma de suas figuras mais autênticas e combativas. Preta Gil faleceu aos 50 anos em decorrência de complicações provocadas por um câncer no intestino, doença que enfrentava desde janeiro de 2023. A notícia foi confirmada por sua equipe.

Filha de Gilberto Gil e neta da cultura popular brasileira, Preta Maria Gadelha Gil Moreira nasceu em 1974, no Rio de Janeiro, em uma família que moldou gerações da música e da arte no país. Mas foi com suas próprias escolhas, voz e postura que Preta construiu uma trajetória singular — marcada por coragem, irreverência e enfrentamento aos padrões que tentaram limitá-la.

Uma vida de enfrentamentos e afeto

Preta Gil cresceu em um ambiente artístico efervescente, mas desde cedo entendeu que o mundo fora do círculo da Tropicália seria bem menos acolhedor. Negra, fora dos padrões estéticos convencionais e bissexual assumida, foi vítima de racismo, gordofobia e homofobia ainda na infância. Transformou, no entanto, cada episódio de dor em combustível para se tornar uma voz ativa em causas sociais.

Ainda adolescente, protagonizou um gesto de resistência ao ser expulsa do colégio onde estudava por protestar contra uma fala homofóbica de uma professora. O episódio foi só o início de uma vida marcada por posicionamentos públicos em defesa das minorias e do direito à liberdade de ser.

Da produção aos palcos: a artista completa

Apesar de conviver desde sempre com a música, Preta estreou tardiamente como cantora: só aos 28 anos decidiu seguir carreira artística, após atuar como publicitária e produtora cultural. Seu primeiro disco, Prêt-à-Porter, saiu em 2003, com destaque para a faixa “Sinais de Fogo” e para a capa polêmica em que posava nua — um gesto que, para ela, representava libertação e autoconhecimento.

A partir dali, lançou álbuns como Preta (2005), Sou Como Sou (2012) e Todas as Cores (2017), este último um manifesto à diversidade, com parcerias com nomes como Pabllo Vittar, Gal Costa e Marília Mendonça. Criou também o Bloco da Preta, um dos mais populares do carnaval carioca, e se tornou figura constante em novelas, programas de televisão e campanhas publicitárias.

Preta era também empreendedora: fundou a agência Mynd, especializada em gestão de imagem e marketing de influenciadores. Sua atuação cruzava fronteiras entre arte, comunicação e ativismo.

Mãe, filha e mulher intensa

A artista foi mãe aos 20 anos de Francisco Gil, seu único filho, hoje músico dos Gilsons e pai de Sol de Maria. Viveu amores marcantes e desafiadores, entre eles o casamento com Rodrigo Godoy, encerrado em 2023 após traições durante o período em que enfrentava o câncer.

Nunca escondeu suas dores. Falava abertamente sobre perdas, maternidade, sexualidade e depressão. Em sua autobiografia, Os Primeiros 50, publicada em 2021, revisitou momentos delicados e reveladores, incluindo a sua primeira paixão por uma mulher, aos 15 anos.

A batalha contra o câncer

Em 2023, Preta tornou público o diagnóstico de um câncer no intestino. Submeteu-se a tratamentos intensos, passou por cirurgias e chegou a celebrar a remissão da doença no fim daquele ano. Retomou sua rotina e chegou a desfilar no carnaval de 2024 com seu bloco, marcando os 15 anos da folia com a mensagem: “Eu venci”.

Mas, em agosto de 2024, exames detectaram novos tumores, incluindo metástases. Mesmo com o avanço da doença, Preta seguiu compartilhando sua luta com o público, incentivando a prevenção e desmistificando o tema com coragem e sensibilidade. Sua postura foi aplaudida por médicos, pacientes oncológicos e fãs de todo o país.

Despedida e legado

A morte de Preta Gil representa uma perda irreparável para a música e para a cultura brasileira. Mais do que uma artista, ela foi símbolo de liberdade, afeto e resistência. Inspirou pessoas a se aceitarem, a ocuparem seus espaços e a desafiarem estruturas de opressão com alegria, inteligência e irreverência.

Preta Gil parte deixando um legado que extrapola o palco. Sua voz segue viva em suas músicas, em seus discursos e nas lutas que abraçou. Para muitos, foi farol em tempos difíceis. Para o Brasil, será sempre lembrada como uma mulher que ousou ser exatamente quem era — e isso nunca será pouco.

 

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Escrito por
Felipe Muniz Palhano -

Felipe Muniz Palhano é sócio do Jornal O ESTADO do Ceará, faz o blog DIVIRTA-CE há 17 anos e também atende clientes de assessoria de imprensa, marketing e produção de eventos pela UPGRADE COMUNICAÇÃO

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Reprodução: Assessoria de Imprensa Brasil | DD Assessoria
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